De acordo com dados do IBGE, a 219 mortes a cada 100 mil habitantes, 185 são de jovens pretos ou pardos. Quase três vezes mais do que os brancos. A discriminação racial está presente em vários hábitos da sociedade: no olhar de superioridade, nas falas que ferem a igualdade, nas atitudes segregatórias e na negligência pelas autoridades. Até o ponto, em que vidas negras são interrompidas. Por isso, movimentos como #BlackLivesMatter são tão importantes. Como a própria Angela Davies disse “não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”.
O racismo permeia as esferas do cotidiano, desde a presença escassa em escolas e faculdades particulares a cargos de poder. Em um país plural e diverso, a representatividade devia ser parte da vivência das pessoas. Contudo, a realidade do mercado de trabalho e da publicidade não condiz com a diversidade do Brasil e com os discursos inclusivos que são promovidos.
Há um abismo entre as oportunidades de trabalho ofertadas para negros e brancos. Uma parcela de culpa se deve à falta de representatividade. Dados do Instituto Ethos, de setembro de 2019, mostram que nas empresas de maior faturamento do Brasil, 58% dos aprendizes e dos trainees são negros, mas apenas 6,3% ocupam cargos de gerência. A proporção diminui ainda mais em relação ao executivo, com somente 4,7% dos profissionais sendo negros.
A ausência de pessoas negras nesses espaços diminui – para não dizer exclui – a possibilidade de jovens negros, que estão ingressando no mercado de trabalho, se inspirarem em grandes profissionais com os quais se identificam. Sem falar, que alguns eventos de marketing são exclusivos para empresas, e até mesmo pouco acessíveis economicamente. O resultado dessa situação é um espaço no qual predomina-se colaboradores e executivos brancos.
Em um estudo da #QuemCodaBr, desenvolvida pela PretaLab – iniciativa que busca à inclusão mulheres negras na inovação -, 32,7% das equipes que trabalham com tecnologia no Brasil não têm nenhum integrante negro. Apesar de ter grandes representantes que marcam a história da inovação, como Phillip Emeagwali, responsável por desenvolver o computador mais rápido do mundo, o pouco espaço concedido a esses trabalhadores é desestimulante e segregatório. Afinal, ainda acordo com a mesma pesquisa, 36,9% dos profissionais de tecnologia são negros contra 58,3%, brancos
O Google encomendou um estudo à Mindset-WGSN e ao Instituto Datafolha, com o objetivo de se aprofundar na diversidade racial e, assim, aperfeiçoar seus serviços e produtos. A pesquisa foi realizada no mês de outubro de 2019, entre homens e mulheres com mais de 16 anos e de diferentes classes sociais, nas capitais Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro.
O resultado? A inclusão no mercado de trabalho é o assunto mais urgente a ser debatido para 48% dos negros e pardos brasileiros. Acontece que ainda assim o tema é discutido menos que o necessário, já que o racismo estrutural e institucional ocupa o primeiro lugar entre pautas de conversas. Para a comunidade negra, ocupar espaço no mercado de trabalho é essencial para formação da identidade e confiança de futuros profissionais!
Mundo digital
Para além disso, a comunicação das marcas também tem um papel fundamental para causar impacto social na sociedade e dar visibilidade a esses grupos minoritários. Mas, para que isso aconteça, é necessário que a mensagem seja consistente, provoque reflexões e quebre padrões.
Hoje essa realidade ainda não foi alcançada. Ainda de acordo com o estudo da Google, 68% dos entrevistados afirmam que não se sentem representados pelas marcas. Além disso, 73% dos negros declarados se sentem ainda menos representados na publicidade que os pardos (66%).
Como criar campanhas mais assertivas? Separamos algumas dicas que orientam a elaboração de publicidade inclusiva. Abra sua mente e esteja pronto para quebrar estereótipos!
Dê a devida atenção
Não mais figurantes! As pessoas negras precisam ocupar o papel de protagonistas nas narrativas, e não apenas serem coadjuvantes em uma história vivida por um branco. É hora de quebrar estereótipos e barreiras criadas!
Seja plural
Existe diversidade dentro da diversidade! Não encaixe a negritude dentro do padrão de beleza dos brancos. As pessoas querem se ver representadas como são: cabelos crespos e cacheados; diferentes traços de narizes e espessuras de lábios; estatura e faixas etárias variadas, dentre outros aspectos.
Ser plural em uma campanha é essencial para mostrar que o negro não está ali “preenchendo uma cota”, e sim porque as pessoas negras devem se sentir representadas. Inclusive esse cuidado com a diversidade dentro da diversidade transmite uma mensagem consistente para o público.
Olhe por uma perspectiva positiva
Explorar somente as dores e dificuldades que as pessoas negras enfrentam na sociedade é um erro. Elas não são, nem se sentem representadas apenas por batalhas e lutas para saírem de condições desprivilegiadas. Crie também novas narrativas e cenários inspiradores!